Nos últimos anos, o mercado de criptomoedas tem despertado o interesse de investidores e empreendedores pela promessa de retornos expressivos e pela inovação tecnológica proporcionada pela blockchain. Contudo, apesar das oportunidades, o investimento em moedas digitais exige atenção redobrada, especialmente do ponto de vista jurídico. A ausência de uma regulamentação específica em diversos países, incluindo o Brasil, e o crescimento de esquemas fraudulentos, como pirâmides financeiras, tornam indispensável a análise criteriosa dos riscos antes de ingressar nesse mercado. Além disso, é importante compreender as diferenças nos canais de aquisição de criptomoedas – bancos de primeira linha, corretoras de valores mobiliários e Exchange – e os riscos associados a cada um deles.
CANAIS DE AQUISIÇÃO: UMA ANÁLISE JURÍDICA
- Bancos de primeira linha
Bancos tradicionais têm começado a oferecer a possibilidade de compra de criptomoedas em um ambiente regulado e protegido pelas normas aplicáveis ao sistema financeiro nacional. Essa modalidade apresenta vantagens do ponto de vista da segurança jurídica, uma vez que as instituições bancárias são fiscalizadas pelo Banco Central e estão sujeitas a regras rígidas de compliance, incluindo normas contra lavagem de dinheiro (AML) e financiamento ao terrorismo. No entanto, essa proteção tem limites: em muitos casos, o cliente não obtém a posse direta das criptomoedas, já que os ativos ficam sob custódia do banco, o que restringe a liberdade de uso das moedas digitais. É essencial que o investidor analise os contratos oferecidos pelos bancos para entender seus direitos e responsabilidades.
- Corretoras de valores mobiliários
Corretoras que atuam no mercado tradicional de valores mobiliários oferecem, em alguns casos, produtos financeiros vinculados a criptomoedas, como ETFs ou contratos futuros. Aqui, o investidor lida com um ambiente regulado pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o que garante maior previsibilidade jurídica. No entanto, é importante destacar que, nessa modalidade, o investidor geralmente não adquire a posse direta da criptomoeda, mas, sim, exposição ao seu desempenho. Esses instrumentos podem ser interessantes para investidores mais conservadores que preferem a segurança de uma corretora regulada e menor exposição à volatilidade. Contudo, o custo de intermediação e as taxas envolvidas podem ser mais elevados.
- Exchanges de criptomoedas
As exchanges são plataformas específicas para compra, venda e armazenamento de criptomoedas. Elas oferecem maior flexibilidade e acesso a uma ampla variedade de ativos digitais. Entretanto, do ponto de vista jurídico, é fundamental que o investidor escolha exchanges que operem de forma transparente e que estejam sujeitas às normas locais ou internacionais de proteção ao consumidor e de combate a práticas ilícitas. O mercado de exchanges ainda é marcado por casos de fraudes, falências e até mesmo ausência de ressarcimento em caso de ataques cibernéticos. Além disso, as plataformas estrangeiras podem apresentar riscos adicionais para investidores brasileiros, uma vez que, em situações de litígio, pode haver dificuldades em acessar mecanismos legais de proteção devido à jurisdição internacional.
PRINCIPAIS RISCOS E GOLPES: UMA PERSPECTIVA JURÍDICA
Volatilidade e risco de mercado
A oscilação dos preços das criptomoedas é intrínseca ao mercado e não constitui, por si só, uma ilegalidade. No entanto, empresas ou indivíduos que oferecem retornos fixos ou garantidos em investimentos em criptomoedas devem ser encarados com desconfiança, pois tal prática pode configurar indício de fraude. Golpes e pirâmides financeiras Os esquemas de pirâmides financeiras, mascarados como “investimentos em criptomoedas”, têm se tornado frequentes. Juridicamente, essas práticas configuram crime contra a economia popular (art. 2º da Lei nº 1.521/51) e podem resultar em responsabilização civil e criminal dos responsáveis. Esses golpes, geralmente, operam por meio da promessa de retornos extraordinários e rápidos, acompanhados de um modelo de captação de novos investidores, o que caracteriza a pirâmide. Recomenda-se que o investidor, ao suspeitar de qualquer irregularidade, denuncie o caso à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) ou ao Ministério Público.
FALHAS DE SEGURANÇA E RESPONSABILIDADE CIVIL
As falhas de segurança nas Exchange também têm implicações jurídicas. Investidores que perdem recursos devido a negligência da plataforma podem buscar reparação judicial, com base no Código de Defesa do Consumidor. No entanto, a possibilidade de êxito em tais ações depende do contrato firmado entre o investidor e a plataforma, reforçando a importância de ler os termos de uso.
COMO INVESTIR COM SEGURANÇA E RESPALDO JURÍDICO
Verifique a regularidade da plataforma Antes de investir, certifique-se de que a instituição é idônea e, se possível, registrada junto aos órgãos reguladores. No Brasil, a CVM e o Banco Central têm emitido orientações sobre o mercado de criptoativos. Desconfie de retornos garantidos Qualquer promessa de rentabilidade fixa em um mercado tão volátil deve ser vista com ceticismo. Investimentos legítimos em criptomoedas não oferecem garantias de retorno.
Consulte um advogado
Um profissional especializado em direito financeiro ou tecnologia pode analisar os contratos oferecidos e orientar sobre os riscos legais do investimento.
Utilize carteiras pessoais (wallets)
Para reduzir os riscos de perda por falhas em exchanges, considere armazenar suas criptomoedas em carteiras digitais pessoais, especialmente as do tipo cold wallet, que não dependem de conexão à internet.
Fique atento à regulamentação
O mercado de criptomoedas está em constante evolução legislativa. Acompanhar mudanças nas normas pode ajudá-lo a evitar problemas legais e a proteger seus investimentos.
CONCLUSÃO
Investir em criptomoedas é uma oportunidade promissora, mas exige cuidados jurídicos rigorosos. A escolha do canal de compra, o entendimento dos contratos e a cautela com fraudes são fundamentais para evitar problemas. Acima de tudo, lembre-se de que o mercado de criptomoedas ainda carece de regulamentação ampla no Brasil, o que reforça a importância de buscar orientação profissional antes de tomar decisões financeiras significativas. Proteger seu patrimônio é tão importante quanto fazê-lo crescer. Como advogado, recomendo que todo investimento seja precedido de uma análise criteriosa das implicações legais e dos riscos envolvidos.
ARTIGO: Empreenda Revista

ALEX ARAUJO TERRAS GONÇALVES
Advogado, fundador do escritório
Terras Gonçalves Advogados e
colunista da Revista Empreenda.